3ª CONFERÊNCIA MISSIONÁRIA 2021 - AO ENTARDECER
«Ao entardecer - RETRATAR OU REINVENTAR... na arte da missão!».
Este foi o subtema que encerrou na noite de 22 de julho, via
zoom, o terceiro ciclo de conferências subordinadas ao tema: Ao entardecer…, que tinha como
horizonte próximo a vivência da Missão num contexto da Pandemia do COVID 19.
A sessão foi aberta pelo P. Simão Pedro da Consolata, e
presidente dos ANIMAG, os promotores desta atividade. A apresentação dos
intervenientes e a moderação esteve a cargo da Ir. Joana Ribeiro,
Concepcionista ao serviço dos pobres, vice-presidente dos ANIMAG.
Orientou a primeira comunicação o P. Álvaro Pacheco,
Missionário da Consolata, a trabalhar ao longo de 17 anos na Coreia do Sul e seis
anos na pastoral na Figueira da Foz em duas paróquias.
Partindo da sua experiência de crente e homem empenhado na
Missão, e da sua capacidade artística e profissional de pintor e jornalista, o
P. Álvaro começou por nos situar na parceria para a qual Deus convida o Homem
na arte de dar continuidade à obra da criação que, como projeto divino, está
ainda inacabada. Perante tal Obra de Arte entregue aos cuidados do homem, este
só poderá dar o seu contributo quando estiver imbuído da mística divina, como
discípulo missionário, para não deformar tal projeto. Poderíamos dizer que a tarefa
missionária consiste na interação permanente entre Deus, autor do projeto, e o
homem, como Seu colaborador.
Numa linha de fidelidade ao projeto divino, o missionário só
poderá ser fiel quando entrar num processo de formação adequado ao sentir e
agir do Mestre, adotando a sua metodologia. Indicou alguns desses passos:
- Acolhimento: Jesus, na sua ação, acolhia as pessoas na sua
realidade pessoal e histórica, sem qualquer reticência ou reparo. Para Jesus
contava a pessoa tal como era.
Partindo da sua experiência na Coreia, ele referiu-se ao novo
nascimento que o missionário é chamado a fazer perante uma cultura, língua,
religião e tradição tão diferente da sua.
- Escuta: No tempo e numa cultura de vertigem, a novidade do
evangelho passa pela capacidade de ter tempo para as pessoas numa atitude de
escuta. Jesus não fazia perguntas. Apenas escutava e sentia a situação. Daí
nasce a compaixão, a capacidade para assumir em si mesmo o problema do outro. É
dessa empatia que nasce a abertura e a transformação da pessoa, começando pela
nossa própria transformação.
- Amor: Ela acontece quando o amor cria essa relação e
proximidade transformando a vida numa entrega até ao fim.
- Testemunho: Esse encontro, para acontecer, exige tempo e
paciência. Deixar tudo para estar… ser apenas para o outro com uma enorme
capacidade para o acolher na sua diferença. Isso já é uma verdadeira obra de
arte, uma nova criação, que inicia já, e antes de mais, em cada um de nós.
Para o P. Álvaro a pintura não foi apenas uma forma de comunicar
o evangelho através da arte quando ainda desconhecia a língua, mas
transformou-se numa grande parábola através da qual ele se tornou num simples
pincel nas mãos do Grande Artista de cuja tela Ele era o dono. Aprendeu a ser
artista nas mãos de Deus na descoberta da Sua vontade através duma relação de
amor para recriar essa obra de arte sempre a refazer-se. A Missão não é nossa.
Somos apenas cor-responsáveis, co-criadores e co-artistas, simples parceiros
duma obra que nos transcende.
Estes tempos de pandemia são muito parecidos com os tempos de
quem começa a Missão como estrangeiro e desconhecedor da língua, cultura,
religião e costumes. Esta situação coloca-nos grandes desafios e nunca é uma
fatalidade. Somos chamados a ser
artistas na recriação de novas formas de vida e de presença através de novas
relações, partilha, empatia, pela proximidade, envolvimento dos outros no seu
próprio destino, sempre numa atitude de sinodalidade e de comunhão. A Missão é
uma arte de aprender a conhecer Jesus e de, através dEle, estabelecer laços de
vida e comunhão com aqueles a quem somos enviados.
Seguiu-se um tempo de perguntas sobre o tema e a sua vida
missionária. O P. Álvaro terminou a sua comunicação com a partilha de várias
pinturas suas, através das quais ele estabeleceu laços de comunhão e de vida
com o povo da Coreia na qual retratava costumes, tradições e formas de vida
daquele povo.
A Ir. Joana apresentou a segunda interveniente da noite, a
Juliana Costa, uma jovem convertida de Barcelos que faz da pintura uma forma de
comunicação do Evangelho e de presença cristã em muitos meios através da
iniciativa ARISCARPORELE.
Será que Deus gosta da arte, começou por perguntar a Juliana.
A criação é em si mesma uma grande obra de arte sempre em construção. Essa
recriação nasce sempre a partir da fonte inspiradora que é a Palavra de Deus.
Foi através desta descoberta que tudo foi acontecendo. No final de cada dia
passava para a tela a Palavra de Deus acontecida e lida a partir dos
acontecimentos. A Bíblia era a fonte e a vida o molde.
Depois
dum tempo em que plasmava no papel a novidade encontrada diariamente no
encontro com a Bíblia, e guardava para si essa experiência, deu-se conta da
forma redutora dessa maneira de agir. Nós somos para os outros, mesmo no que
fazemos. Foi então que se deu conta de que era necessário partilhar esse dom
com os demais. E aqui surgiu a riqueza dos seus trabalhos. Ao dar a conhecer a
sua obra começou a receber muitas sugestões, e teve um incentivo mais forte ao
dar-se conta da força evangelizadora desse compromisso. Foi da interação com os
outros, mesmo não crentes, que nasceu o gosto pela evangelização através da
arte. É uma forma de atualizar o Evangelho como resposta às situações que se
vivem no dia a dia. Desse modo sente estar a gerar esperança nas pessoas nestes
tempos nebulosos em que vivemos. Está a dar-se conta de que as suas pinturas se
tornaram uma primavera quando proporcionam a entrada de Jesus na vida concreta
das pessoas.
Para
ela está a ser uma descoberta permanente porque se tornou numa forma de
extravasar para o papel o que não era capaz de exprimir pelas palavras. Ela
sente que fala pelas mãos através do desenho partilhando a sua fé. A Juliana
encantou pela sua exposição, mas sobretudo pela sua simplicidade e sorriso de
mulher de fé.
Encerrou
este ciclo de conferências D. Armando Esteves, Bispo Auxiliar do Porto e
Presidente da Comissão Episcopal para as Missões e Nova Evangelização que já
havia feito a sua abertura. Congratulou-se com a iniciativa e estimulou-nos
para uma criatividade permanente de modo a tornarmo-nos sinais e presença do
amor de Deus no mundo de sofrimento e luz sempre viva ao entardecer.
3/3 Conferência Missionária «Ao entardecer» 22 julho 2021
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