À ESCUTA DO DIÁLOGO: ENCONTRAR-SE – Diana de Vallescar Palanca

 


À ESCUTA DO DÍALOGO: ENCONTRAR-SE

«No princípio era o Verbo...» (Jo 1,1). Palavra, diálogo, encontro: encarnação.

Como vejo a diversidade e as diferenças? Como olho e sinto a diversidade?

A experiência pessoal da interculturalidade e o ambiente inter-religioso no seio da própria família como ponto de partida para a tomada de consciência da presença do diferente na própria história. Diálogo e encontro estão intimamente vinculados: não há diálogo profundo sem encontro. Palavra «diálogo» já está gasta. Há o perigo de confusão entre diálogo profundo e simples conversa.

Como dialogamos? Dois tipos de diálogo, segundo Raimon Panikkar: 1) Diálogo dialético (arena de disputa intelectual que aponta razões e equívocos dos interlocutores, não dando lugar ao encontro). 2) Diálogo dialogal (diálogo existencial, sem qualquer intenção de convencer o outro, mas sim de o compreender, perguntando: que me dizes tu de mim?)

Há que aceitar o risco de se ser surpreendido, convencido e convertido.

Modelos do diálogo inter-religioso:

1. Modelo geográfico: vários caminhos com nomes diferentes, sendo as diversas religiões vias que conduzem ao cume.

2. Modelo físico das cores. A mistura de duas cores poderá resultar numa outra cor. Beleza e riqueza da realidade humana. Arco-íris como modelo de Deus e da humanidade plural.

3. Modelo geométrico. As religiões não se encontram uma ao lado da outra, mas sim essencialmente interconectadas.

4. Modelo antropológico. Linguagem aberta. Todas as religiões estão ligadas através da linguagem. O problema é a tradução. Os conceitos são fechados, mas os símbolos não o são.

5. Modelo místico. Há um tipo de silêncio que é anterior à palavra. Este é, igualmente uma preparação para a palavra. Se vamos para o diálogo com muitas palavras, não escutaremos. A importância do silêncio e da pausa.

Não se trata de tentar chegar à completa unanimidade nem de misturar todas as religiões.

Teresa de Jesus. Dimensão humana e espiritual. Século de ouro espanhol. Santa Teresa vive para o diálogo. Move céus e terra para percorrer toda a Espanha. Uma mulher que estabelece três tipos de diálogo 1) com a cultura do seu tempo, 2)  inter-intrapessoal e 3) intra-eclesial com os vários setores da Igreja. Algumas chaves: pluralismo, diversidade/diferenças, diálogo/encontro (diálogo feito de pessoas). «Para que o amor seja verdadeiro e a amizade dure, devem ser encontradas as condições» (Santa Teresa). Poucas vezes investimos no trabalho de criação das condições.

Teremos de ir criando pontos de encontro. Porque o diálogo constrói-se. Trabalhar pelo diálogo é trabalhar por esses pontos de encontro.

A Igreja deve arriscar mais no diálogo com a cultura. 

Adelino Ascenso

Presidente dos IMAG


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