À ESCUTA DO DIÁLOGO: REFAZER-SE - Adelino Ascenso

 

À ESCUTA DO DÍALOGO: REFAZER-SE

Apresentação em três pórticos.

        1. Porquê o tema genérico À escuta do diálogo? Partimos do princípio de que o diálogo já existirá, mesmo que disso não tenhamos consciência, pois há, em cada ser humano, uma sede insaciável de nos completarmos mutuamente. Discernir o trabalho prévio do Espírito, Aquele que é «o protagonista da missão», para que possamos prosseguir, apaixonadamente, de mão no arado, rasgando montes e planuras, escarpas e desertos, mares e rios. Escutar, com o ouvido interior, a «ligeira brisa» de Elias, que é estrado repousante no meio do tumultuar buliçoso do quotidiano. Esvaziar-se de preconceitos, de temores, de egoísmos e da ideia de que encontraremos a felicidade em coisas transitórias. Encontrar-se, sabendo que, muitas vezes, é na plenitude do vazio que se realiza o encontro. Dialogar, porque o diálogo já lá está, sendo necessário que o avivemos nas suas diversas formas: da vida, das obras, dos intercâmbios teológicos, da experiência religiosa, de peregrinação, já que «estou vivo, por isso peregrino». Urge um refazer-se para juntarmos as peças estilhaçadas do nosso interior e nos concentrarmos naquilo que pode, em nós, transformar a crise em oportunidade.

        2. O permanente esforço do papa Francisco no refazer-se de uma Igreja mais humilde, mais consciente da sua fragilidade, das suas feridas dos pecados dos seus membros; uma Igreja que deve ir às periferias, para que também ela seja uma verdadeira periferia. Refazer-se contra as doenças de egoísmo, narcisismo, vaidade. A importância da sinodalidade, uma vez que «é juntos que se constroem os sonhos» (FT 8). O refazer-se no inter-escutar-se, na comunhão e na participação, tendo a «missão» como meta final. «Imperativo da cooperação», de mente e coração abertos e sem preconceitos, em rede humana, rumo a um «nós» cada vez maior. Confiando e escolhendo a vida.

        3. Decálogo do encontro com o diferente, em ordem a um refazer-se nas relações connosco próprios, com o outro e com o transcendente: valorizar as nossas perdas, para que não nos tolham os movimentos de libertação; humilde atitude de escuta, discernindo aquilo que o Espírito nos está a dizer no meio de todas as nossas perdas; ver com o coração, já que «o essencial é invisível aos olhos»; encontrar, escutar, discernir, em vista a um caminhar juntos; da deslocação da zona de conforto ao testemunho; da transformação dos nossos fracassos em pontos de luz e sua atualização num constante refazer-se; a «Via do Chá» e as lições que poderão ser daí extraídas, no sentido da valorização do instante, da beleza da sobriedade e do significado profundo da humildade; apreender a força criativa da dúvida, sempre a refazer-nos dos escombros, soprando as brasas acesas por baixo das cinzas do nosso borralho.

Padre Adelino Ascenso

Presidente dos IMAG

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