1ª Conferência Missionária 2021 - AO ENTARDECER
AO ENTARDECER… A OUSADIA DA FRAGILIDADE
CICLO DE
CONFERÊNCIAS MISSIONÁRIAS
AO ENTARDECER
No dia 28 de janeiro os IMAG/ANIMAG retomaram o ciclo de conferências
missionárias aberto em outubro do ano passado, no intuito de não se perder a
dinâmica missionária, mesmo em tempo de pandemia, de “voltar a partir…”, como
nos convidou D. Armando Esteves Domingues, Bispo auxiliar do Porto e Presidente
Episcopal da Comissão Missão e Nova Evangelização, na abertura destas
jornadas. Convidou-nos a fazermos deste tempo desafiante um
“Laboratório da Missão” onde se engenham as novas soluções para as realidades
emergentes que tentam sufocar-nos. Desafiou-nos, a partir de Atos 11, 19-26,
também tempo de crise, a promover “uma laicidade santa” ao serviço da
humanidade dilacerada por uma pandemia sem fim à vista.
Pela promoção, acompanhamento, estímulo e oração por esta nova “geração
samaritana” emergente nos nossos centros hospitalares, pode passar a nossa
tarefa missionária, sem nos demitirmos todos, de sermos luz e esperança para
esta humanidade mergulhada na fragilidade.
A primeira comunicação/testemunho foi-nos oferecida pelo Dr. Álvaro
Pereira, Diretor do Serviço de Infeciologia do Hospital de Santa Maria de
Lisboa, cuja presença entre nós foi uma espécie de parábola humano/profissional
dos tempos que vivemos. Vindo à nossa plateia após 21h de trabalho seguido no
meio duma enorme tensão de luta entre vida e morte, o seu rosto
abatido, as suas palavras por vezes sufocadas pelo cansaço e desgaste
emocional, mas testemunhando uma grande esperança e enorme admiração por
quantos a seu lado dão o melhor das suas vidas, a começar pela jovem e ainda
inexperiente geração médica que dá tudo o que está ao seu alcance, foram para
nós o símbolo da resiliência perante este drama, e a promessa de que o rosto
fraterno de Deus se torna visível no meio desta fragilidade através desta
tal “laicidade santa”, de que falava D. Armando.
Esta situação não é nova. Já no AT se falava desses vírus, a lepra, e do
isolamento legal e profilático destes doentes. Nós é que pertencemos a uma
geração que se considera senhora do mundo e incapaz de coabitar com a
fragilidade estrutural e constitutiva do ser humano. Nós somos frágeis, diz-nos
o Papa Francisco.
Esta situação exige a nossa doação plena para a sua minimização, e ao mesmo
tempo é uma oportunidade para descermos dos nossos pedestais e construirmos
atitudes de proximidade e de compaixão, e até mesmo, de revermos as nossas
estruturas familiares, de modo a que as nossas casas, pensadas apenas para
nossas zonas de conforto, se tornem espaços de acolhimento, mesmo em pequenos
espaços, para os nossos idosos a pedir-nos mais proximidade. Também o modelo de
hospital e tipos de saúde que prestamos merecem uma reflexão, para que ninguém
parta deste mundo sem a presença dum tosto amigo e duma mão fraterna que o
acompanhe na hora da despedida. Este é um dos dramas desta pandemia. Nem os
nossos mortos são chorados.
A segunda comunicação esteve a cardo do Irmão Vítor Lameiras, Provincial
dos Irmãos de S. João de Deus que, como o Dr. Álvaro Pereira, foi apresentado
pela Ir. Joana Ribeiro, com quem conviveu alguns anos em Missão em Timor Leste.
Pelo seu testemunho hospitaleiro e orante fomos conduzidos até ao coração
da fragilidade total assumida pela humanidade de Jesus que encarnou a
experiência do abandono, da angústia e da morte, mas que a partir do seu
mistério pascal abriu para todos nós a porta da plenitude da VIDA. Foi uma
leitura orante a partir do 1º hino de vésperas de segunda-feira do tempo comum.
A fragilidade faz parte da nossa condição humana: nascemos a chorar e
despedimo-nos da mesma maneira. É necessária a nossa conversão à fragilidade.
Foi também em condições idênticas à nossa que S. João de Deus fez essa
experiência pessoal e se decidiu fazer da sua vida um dom ao serviço dos mais
frágeis. E essa foi a herança hospitaleira que deixou aos seus seguidores para
que ninguém, mesmo os mais pobres, fique de fora, e que a sua ação não se
limite apenas à resposta humana, mas seja a porta para chegar ao mais
íntimo do coração humano.
A fragilidade não é apenas uma experiência física, mas é também humana e
espiritual. A incapacidade de resposta por falta de vocações hospitaleiras é
também uma dor grande para a qual é necessária a conversão. Foi a partir desta
situação dolorosa que nos falou da forma com têm gerido os diversos centros
hospitaleiros através de colaboradores a quem apoiam e incentivam com a mística
hospitaleira.
No final seguiram-se as perguntas e respostas por parte dos dois comunicadores coordenadas pela Ir. Adelaide Gonçalves. A coordenação geral esteve a cargo do P. Simão Pedro, Presidente dos ANIMAG.
1/3 Conferência Missionária «Ao entardecer» 28 janeiro 2021
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