«Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é que te diz: “dá-me de beber”, tu é que lhe pedirias, e Ele havia de dar-te água viva!» (Jo4, 1-4

Neste ano litúrgico, do ciclo A, os Evangelhos introduzem-nos no sacramento do Baptismo. E porque será? Porque na Igreja primitiva fazia-se uma longa preparação para receber este sacramento. Este caminho chegava ao seu ponto mais alto no dia da Vigília, onde o catecúmeno era submerso na piscina, cheia de água, e faziam-no três vezes, para ser purificado, e assim era introduzido na grande Família da fé, nascendo para uma Nova Vida em Cristo.

O símbolo mais importante das leituras deste Domingo é a Água, e tudo o que ela representa. Para os povos antigos especialmente os orientais, a água simboliza a vida. No Novo Testamento, com o Baptismo, a água está relacionada com a salvação, e com a participação na mesma vida de Deus.


Na primeira leitura é-nos apresentado o povo que caminha no deserto com sede. Então Moisés pede de beber a Deus e este responde-lhe: “Baterás na rocha e dela sairá água para todo o povo”. Ora Moisés prefigura a Pessoa de Cristo, Aquele que nos dá a verdadeira água. Ele é quem tem a água que tem força para tirar-nos a sede. Isto vemos claramente no Evangelho de hoje, no encontro entre Jesus e a Samaritana. Nesse encontro, Jesus apresenta-se diante da Samaritana como um sedento que lhe pede de beber: “Dá-Me de beber”(Jo 4,7).

Hoje, Jesus aproxima-se de cada um de nós expressando a sede que Ele tem da nossa vida. Ele apresenta-se necessitado de partilhar connosco a vida, com as nossas lutas e os nossos medos. Aproxima-se como um mendigo, suplicando o nosso amor, a nossa conversão, as nossas intuições na oração, a nossa atenção com os colegas de trabalho. Ele convida-nos a aproximar das pessoas com quem há muito tempo não falamos por males entendidos ou por, nem sempre ser fácil definir-nos.. Por trás dessas pessoas, Jesus sussurra-nos: “Dá-Me de beber”. Nele tenho sede das tuas palavras, do teu perdão. Tenho sede que tu te deixes amar na tua história. O nosso Deus penetra a história humana e acompanha, em todas as suas etapas, desde de dentro.

O encontro de Jesus com a Samaritana, é o encontro de duas sedes: a sede de Jesus e da Samaritana. A Samaritana sente a necessidade de descobrir a sua dignidade, de libertar-se dos muitos “maridos”. E Jesus, com uma enorme delicadeza, coloca-a diante da sua verdade, e guia-a à verdadeira água, é aí onde descobre a sua dignidade, e se liberta dos muitos “maridos”.

Santo Agostinho ao falar deste encontro diz: “Jesus apresenta-Se como um necessitado que espera receber, mas é rico para dar em abundância (...)Se conhecesses o dom de Deus...” E qual é o dom? É o dom do Seu Espírito, que nos capacita para viver em abundância.

Hoje, como com a Samaritana, Jesus quer vir à nossa vida para dar-nos dessa água, e purificar-nos de todos os “maridos”, que são todos os falsos amores que nos deixam tristes e sem vida - como a rotina quando nos impede ver os outros com um olhar renovado ou que nos impede de olhar para nós próprios como pessoas em caminho e com capacidade de converter-nos cada dia.

Jesus quero agradecer-Te porque conheces a minha sede e a de cada de irmão. E conhecendo-a vens dizer-nos que em Ti está a fonte da Vida. Ensina-nos a beber dessa fonte, para que não tenhamos mais sede.


2ª Feira: (II Re5,1-15ª) (Lc4, 24-30) A leitura do livro dos Reis, apresenta-nos a purificação do leproso de Naamã, através da água. É o convite a fazer-nos conscientes do dom que recebemos no baptismo que nos cura de tudo o que nos impede amar, de partilhar, e de olhar o outro como um irmão. O baptismo capacita-nos para recomeçar, cada dia, este caminho de relação.

3ª Feira: (Mt18,21-35) Uma das graças recebidas no baptismo é a capacidade de perdão. No Evangelho, Jesus convida Pedro a que não coloque limites ao perdão. Jesus quer renovar o nosso coração, para que frente às situações de injustiça, que encontramos diariamente, possamos optar sempre pelo perdão. Porque, só desde aqui, é possível aceitarmo-nos como somos, amarmos nas nossas debilidades, possibilitando amar da mesma forma os outros. Jesus, ajuda-nos a nascer de novo.

4ªFeira: (Mt5, 17-19) A Palavra de Deus quer levar-nos a uma relação, com Deus, baseada numa amizade profunda, isto é, que vai mais além do cumprimento da Lei. Com o baptismo fomos enxertados em Cristo, ou seja, começamos a participar da mesma vida de Deus, somos “filhos no Filho”. Este tempo da quaresma, é um tempo propício para perguntarmo-nos sobre como está a nossa relação com Deus. Será que eu vivo como filho(a)?

Jesus veio trazer-nos a plenitude da lei, que é o Amor: a Deus e ao próximo. E ser filhos é viver, como Ele, no Amor. Peçamos-lhe que as nossas vidas sejam regidas pela lei do Amor que expulsa todo o temor e, nos capacita para conhecer Deus tal como Ele é.

5ªFeira: (Lc11,14-23) Hoje, o Evangelho convida-nos a “expulsar os demónios”, isto quer dizer, a lutar contra tudo o que nos divide e nos separa dos outros. Quando no nosso interior, as vozes internas nos fazem desconfiar do irmão, do meu marido ou da minha esposa, esse é o momento de lutar para que o mal não coloque barreiras nas nossas relações, para que não nos distanciemos uns dos outros. Com todas as forças, busquemos a ajuda dos irmãos, para vencer a tentação.

6ªFeira: (Mc 12,28b-34) A pergunta que o escriba faz a Jesus, nesta leitura, é bastante pertinente: ”Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”. Por vezes, nós perguntamos isto mesmo de outra forma: na minha vida o que é essencial? Quais são os valores prioritários para mim?

Deixemos que Jesus nos responda, tal como o fez com o escriba: ”Ama o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, e ao teu próximo como a ti mesmo.”

Sábado: (Lc18,9-14) “Amor quero e não sacrifícios”. Jesus olha para o que está no mais profundo do nosso coração. Ele não fica nem nas aparências nem nas atitudes externas. Ele é Alguém que conhece o que existe em nós, e por isso não quer as nossas coisas, mas quer o que somos, e deseja que a nossa relação com Ele seja cada vez mais sincera e mais próxima. Senhor, que não tenhamos medo de aproximar-nos de Ti, ainda que os nossos sentimentos sejam de indignidade, como os do Publicano. Tenhamos a confiança para dizer-Te: ”Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador!”, porque na Tua misericórdia nos levantaremos.
Comunidade Missionária Servidores do Evangelho (Coimbra)

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