À ESCUTA DO DÍALOGO: ESCUTAR – Franco Sottocornola e Maria De Giorgi


 

À ESCUTA DO DÍALOGO: ESCUTAR 

Em 2020, os IMAG-ANIMAG organizaram uma série de cinco conferências missionárias, por videoconferência. Uma vez que houve muita participação, decidiu-se, também este ano, organizar cinco conferências missionárias, também elas por videoconferência.

Sobre o tema, considerou-se oportuno abordar algo que já se tornou incontornável e que exigirá de cada um cada vez mais esforço, já que os caminhos são complexos: diálogo inter-religioso e intercultural. Uma das finalidades de tal diálogo terá de ser a tentativa para construirmos sonhos juntos, por muito diferentes que sejamos.

A série de cinco Conferências Missionárias de Outubro de 2021, intitulada À escuta do diálogo, iniciou com uma presença a partir do Japão e o verbo escolhido foi escutar, algo essencial para se iniciar qualquer tipo de relação. Os conferencistas foram o Padre Franco Sottocornola, italiano, Missionário Xaveriano, que está no Japão há mais de 40 anos, e a Irmã Maria De Giorgi, igualmente de nacionalidade italiana, Missionária de Maria – Xaverianas, especialista em Budismo e em diálogo inter-religioso, também ela há muitos anos no Japão. O padre Franco é fundador e diretor do centro de espiritualidade e de diálogo inter-religioso Shinmeizan e a Irmã Maria dirige, juntamente com o padre Franco, o referido centro.

O padre Franco fez uma apresentação de Shinmeizan, como centro de espiritualidade inspirado na Federação das Conferências Episcopais da Ásia (FABC), que considerava, no continente asiático, o diálogo inter-religioso como prioridade, e alicerçado no diálogo com as tradições culturais do Japão: a natureza como lugar de experiência religiosa, o silêncio e a «vida do chá». Realce para as boas relações de amizade com os habitantes da aldeia mais próxima, assim como com os representantes do xintoísmo e do budismo. Shinmeizan é profícuo no que diz respeito às quatro formas do diálogo, tal como estão descritas no número 42 do documento Diálogo e Anúncio do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso (1991): diálogo da vida, diálogo das obras, diálogo dos intercâmbios teológicos e diálogo da experiência religiosa. O destaque deverá ser sempre dado ao encontro e à construção de relações de amizade, pois não há diálogo entre as religiões em si; o que há é o diálogo entre pessoas que professam diferentes religiões (cf. Pietro Rossano, 1923-1991). Diálogo sem diluição nem anulação; sem perda da própria identidade. Um centro onde se tateia a presença do transcendente, ao ritmo do coração humano e em comunhão com a exuberância da natureza. É lá que estamos.

A aurora começa a despontar. Silêncio. O vento sussurra por entre as folhas das árvores. Faz frio. Entoamos a oração da manhã ao ritmo do alvorecer. O sol aparece, lentamente, do Oriente, por detrás das montanhas. No coração, os sons graves de uma solene sinfonia. Os salmos da oração da tarde serão recitados ao pôr-do-sol, virados para o Ocidente. Regressamos, em silêncio, e entramos na capela de tipo zen-dō (templo onde os monges do budismo zen praticam za-zen), circundada pelo jardim de areia e pedrinhas. Ressoa o gongo. Sentamo-nos e fazemos vinte minutos de za-zen. Segue-se a celebração eucarística. Movimentos lentos, harmoniosos. Intensidade nas orações, beleza da simplicidade, pureza. O vazio e a sua plenitude. Um crucifixo, uma bela, pequena imagem da Virgem Maria; um ike-bana (arranjo floral japonês). Terminada a celebração da Eucaristia, tomamos o pequeno-almoço, sempre em silêncio. Em seguida, trinta minutos de sa-mu (trabalho de agricultura e limpeza que os monges fazem nos mosteiros zen). A limpeza do caminho e do jardim, o apanhar das folhas caídas como símbolo de purificação interior. Terminado o sa-mu, conclui-se também o voto de silêncio, que já tinha começado na noite do dia anterior, depois da oração da noite à luz da lua cheia. Este é o ritmo de oração em Shinmeizan («Montanha da Vida Verdadeira»). Exemplo prático de inculturação e de diálogo. Um estímulo, um desafio. Existirão momentos de treva, de dúvida, talvez mesmo de quase desespero. O diálogo não é um caminho linear. Mas não serão precisamente as vias difíceis que nos estimulam à beleza do encontro?

Adelino Ascenso

Presidente dos IMAG


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