5ª e última Conferência Missionária: «A falta que um rosto faz...AS PALAVRAS DA MISSÃO» - Dom Tolentino de Mendonça
O ciclo de cinco conferências sobre A falta que um rosto faz encerrou com As palavras da missão do cardeal D. José Tolentino de Mendonça. A base foi a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões 2020, que o orador desdobrou, como um mapa, ajudando a vislumbrar novos caminhos. Mensagem que abre com a magia da palavra gratidão, porque são incontáveis os testemunhos que nos fazem estar reconhecidos.
O chamamento para sairmos de nós próprios e irmos ao encontro das periferias territoriais e existenciais implica uma conversão missionária, que deverá estar sempre em curso, pois a Igreja não pode falhar o encontro com a missão.
A importância de olharmos para o contexto e de a ele colarmos os nossos pés. O futuro chegou de tropeção, dolorosamente inesperado. Frágeis e desorientados, sabemos que devemos remar juntos, encorajando-nos mutuamente, não dispensando ninguém e não esquecendo aqueles que permanecem nas margens. Contexto de pandemia que é tempo de reflexão, de oportunidade e de missão pensada e reinventada. Descobrimos a nossa grande vulnerabilidade – que escondíamos teimosamente – e sentimos que teremos de transformar o eu temeroso num eu que saia de si mesmo, que viva a partilha e a intercessão, pois este é um tempo para o Evangelho e para a transformação da dificuldade em força de um encontro em profundidade.
Urge que haja aprofundamento teológico e espiritual. A missão tem um diferencial teológico, já que o missionário é um mensageiro do Pai, imagem daquilo que vê em Jesus. É Cristo que nos faz mergulhar no amor e nos transforma em povo de testemunhas: somos chamados a testemunhar com a vida e com a palavra. A Igreja, por seu lado, emerge na sua identidade de povo de testemunhas e é através dela que Deus manifesta o seu amor a cada criatura.
A missão é uma resposta que somos chamados a dar sobre a nossa presença no mundo. É preciso refletir sobre aquilo que Deus nos está a dizer neste tempo de pandemia, pois não podemos ignorar; devemos trazer este nosso mundo no coração: é isto que somos chamados a viver, sentindo-o como interpelação que nunca nos pode deixar indiferentes. É daí que brota o «eis-me aqui, envia-me» (Is 6,8).
A encíclica Fratelli Tutti é o que é por causa da pandemia. Tomamos consciência de que não podemos não viver a fraternidade universal. Precisamos de criatividade, pois muitas coisas foram adiadas ou canceladas e a incerteza paira sobre nós. Mas não podemos adiar o coração (A. Ramos Rosa).
A falta que um rosto faz! Quando as palavras nos faltam, precisamos de um rosto. O rosto é o centro ético do mundo (E. Lévinas). Ver um rosto é sentir uma responsabilidade e cada rosto é uma súplica, uma fraternidade como construção, uma escolha ética que se faz missão. A credibilidade da experiência do amor joga-se na nossa capacidade de dar o rosto e receber o rosto, visto que é nele que tocamos o infinito.
Nestes tempos dolorosos e ricos, «que fazer?». Um rosto que interroga e que faz com que se habite a tensão da pergunta, vencendo a fragmentação e resistindo à tentação da resposta fácil. A pandemia como terra de missão.
Adelino Ascenso
Presidente dos IMAG
Poderá ver e ouvir integralmente a conferência de: Dom José Tolentino Mendonça
Conferências Missionárias 5/5 - 29 Outubro 2020
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